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Física ou Química?


 Eu mereço o que tenho. O bom e o menos bom… Ensinaste-me a lidar com as consequências de todas as escolhas que fizera. As boas e as más. Porém, repreendias-me sempre com algum fator externo justificando sempre a tua opinião. Fosse o que fosse o que me dizias, tinha sempre um enorme impacte em mim.

 Prendias-me e não me deixavas sentir o aquilo que eu acreditava que era o melhor para mim. No final de contas, quem acabou sozinho não foste tu. Fui eu.

 Tenho a certeza que quem não dorme de noite, não grita tudo o que pensa, não come o que devia comer, não se priva do Mundo, não és tu. Mais uma vez, sou eu.

 Deixei-te tudo o que tinha, inclusive uma grande parte da minha alma. Ela foi-se embora contigo e a que permaneceu, não chega para o que – neste momento – vivo.

 Sem fazeres as malas, foste-te embora. Deixaste-me aqui, com todas as recordações que tenho de ti e tudo o que me apetece fazer, é esquecer-te. Não me sais da cabeça, nem por nada. Qual a razão de o teres feito sem aviso prévio? Sem uma ordem de despacho de tudo? Sem um único sinal de que não irias mais ficar. Aqui... Comigo.

 Fugiste e deixaste a porta aberta. As janelas de igual forma. A cama desfeita em que todas as noites me deito e desejo, só por mais uma noite, que te deites nela comigo. Como quando fazíamos sempre que passávamos uma noite juntos.

 Não precisávamos de dormir, podíamos ficar acordados a ter aquelas conversas que só nós dois tínhamos. Trancados num quarto, com as luzes apagadas e o único sinal de luminosidade que existia era apenas a luz do luar que entravam pelos pequenos fechos das persianas.

 Só via sombras e ouvia a tua voz, mas eu tinha a certeza que estavas lá. Estavas comigo e isso bastava. A conversa podia nem ter um assunto específico ou uma lógica suficientemente plausível de ser discutida, mas eu sabia que iria ser um momento do qual iria permanecer na minha memória.

 Confessava-te eras sempre como uma espécie de cura para os meus problemas. Simplificava-os e resolvias-mos, num abrir e fechar de olhos. Tudo era deste modo, antes. Agora, já não é mais assim… Desse jeito. Passaste a ser a razão da qual padeço dos meus males e demónios, quando na verdade – eras a cura de tudo isso.

 E, ainda assim conseguiste deixar-me assim. Com todos os problemas e preocupações. Com tudo o que sempre me desejavas de mal, enquanto discutíamos e isso doía-me cada vez que gritavas uma palavra em relação a isso. Cada palavra era sentida como um corte que fazias na minha pele, já cicatrizada, mas que conseguias abrir ainda mais as feridas que eu pensara que as tinhas saradas.

 Afinal, não eras tu que se importava mais. Não eras tu que sofrias mais. E, não eras tu que sempre ficavas a noite inteira acordado a ver dormir alguém que significava tanto, que não se vencia pelo cansaço – fosse ele muito ou pouco – e, observavas aquilo que de mais precioso guardavas, naquela fase da tua vida. Aliás, da minha vida. Essa sim, é a que ficou mais afetada. Ela e eu.

 Pedia-te tudo, deixava-te fazer o que quisesses. Apenas te impunha uma única condição: que não me abandonasses. Adivinha lá o que aconteceu? Pois… sabes muito bem a resposta. Abandonaste, sem quês nem porquês. Só com gritaria e insultos – aquilo que mais fazias comigo.

 Ficavas sempre tão ofendido e chateado com tudo aquilo que te dizia, eras o dono da razão. Mas, apenas da tua. Só eras dono da tua razão. Só aceitavas a tua verdade como a mais verdadeira, perdoa-me pela redundância – mas sabes que é verdade.

 Agora que tento observar tudo de fora, deparo-me com o lugar de maior perdedor. Isto é, se é que tu sentes que perdeste algo. Acredito que não te sintas assim. Acredito-me tanto que me assombra mais o facto de saber que deverás estar a seguir com a tua vida, normalmente como se nada se tivesse passado e ter-me-ás esquecido, no dia seguinte à última discussão que tivéramos.

 Só não sei como consegues. Como…? Ser frio a este ponto. Ficar distante daquilo que me fazias ter cada vez mais vontade de ficar perto.  

 Creio que funcionávamos como um íman e um objeto de metal. Quando o teu polo positivo estava direcionado para mim – enfim, para nós – deixavas-me ser atraído. Agora, que o teu polo negativo se virou contra mim, a distância é a única coisa que nutres por mim.

  Sei que a física que existia entre nós, infelizmente, já se perdeu.
 Mas e a química? Ela ainda existirá?
Rush



Comentários

  1. " Só via sombras e ouvia a tua voz, mas eu tinha a certeza que estavas lá. Estavas comigo e isso bastava. A conversa podia nem ter um assunto específico ou uma lógica suficientemente plausível de ser discutida, mas eu sabia que iria ser um momento do qual iria permanecer na minha memória." Ohh... <3

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