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Até que a morte nos (re)una

 Normalmente, não sou uma pessoa religiosa. Tu sabes isso melhor que ninguém. Mas eu tenho fé! Tenho a fé de que um dia, quando não acordar de um sono muito profundo, tu vais estar no meu sonho. Nesse mesmo sonho que nos junta no paraíso – onde só existirá eu, tu e o nosso amor.

 Aquele mesmo amor que me prometeste sentir e admitiste-o perante a tua mulher. Essa senhora que com grande respeito falei e nunca na minha vida vivenciei algo tão estranho. Mais estranho ainda que a minha própria coragem de me fazer estar naquele lugar, a presenciar toda a conversa que tivemos.

 Eras um homem separado, repara que não utilizei a palavra divorciado. Estavas casado sim, mas separado. Já não havia amor, não havia qualquer tipo de sentimento, nem mesmo um simples toque. Nada. Rigorosamente nada. Não sei se o que procuraste em mim foi uma fuga a essa monotonia devastadora, se um refúgio para encontrares a felicidade. O que é certo é que nós conseguimos. Conseguimos mesmo! Afirmaste perante a tua mulher, numa das conversas mais sérias que alguma vez tivera na vida – senão a mais séria - que me amavas. Os teus olhos brilhavam nesse momento. Assim como a tua respiração se tornou cada vez mais ritmada, como se um metrónomo te estivesse a marcar os tempos de respiração. Aquilo tudo era música para mim. Claro que não porque afirmaste que me amavas à frente da tua mulher, mas porque foste o primeiro homem a dizer-me nos olhos que me amavas… Com aquela intensidade, com aquela respiração, com aquela voz. Tudo isto soou-me a uma perfeita harmonia – como aquelas que eu tocava ao piano e que tu adoravas. Lembraste disso? Lembraste do quanto me pedias para tocar no piano, só para nós dois. Isso sim. Superava o prazer que tinha em ouvir todas as sinfonias de Beethoven. A música era acompanhada sempre de dois copos de vinho – tu fazias sempre questão, não era?

 Realmente, nós precisávamos mais de momentos como esses. E ainda assim, nós fizemos de tudo para que isso se torna-se possível. Mas a vida dá-nos lições dolorosas, contudo valiosas. A valiosa lição de que o amor pode continuar, mesmo depois da Morte. Um amor mais fortalecido e capaz de me fazer suportar o “viver sem ti”.

 Passado estes anos todos, continuo sem compreender completamente o porquê de tudo isto. Porque é que o Karma, Deus, o Destino, seja lá o que for te roubaram de mim? Por muito que me questione todos os dias acerca de Ti, eu sei que um dia me irão devolver a felicidade. A Felicidade verdadeira e plena que tinha contigo a meu lado.

 Portanto, a fé está lá. Talvez é o que me tem movido, neste últimos tempos tão difíceis para mim. A fé que me faz acreditar que Tu estás vivo, algures no Mundo ou noutro universo paralelo. A certeza utópica de que algum dia te vou reencontrar no nosso paraíso, faz-me viver. Viver no sonho em que estás tu, eu e o piano acompanhado com um bom vinho que tu escolhias a dedo, para estas ocasiões. Esse sonho que eu nunca irei apagar da minha memória, bem como os teus beijos ou os teus abraços reconfortantes.

 Não te posso pedir para voltares, porque a Morte não devolve nada a ninguém, só rouba. Mas se esse mesmo sonho te puder trazer de volta, então vou continuar a sonhar e nunca mais acordar desse sono profundo.

 Deixa-me adormecer embalada no som da tua voz. Enroscada nos teus braços. Deixa-me adormecer com um motivo: voltar a ver-te.


 Até amanhã, meu amor. Vejo-te nos meus sonhos...

Rush 




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