Chegaste a casa e deparaste-te comigo na sala. Já era tarde, mas queria estar acordado para te ver assim que chegasses e assim o foi… Ficas tão giro de fato e gravata. E eu fico tão orgulhoso de te ver assim!
Vens para o pé de mim, tirando o casaco e arrancando o cinto das calças. Descalças-te enquanto caminhas até mim e a gravata já se encontra no chão da sala-de-estar. Dás-me um beijo e ficas abraçado a mim. Perguntas-me o que estava a ver na TV e, ao final de alguns segundos, apercebes-te que estava a ver a minha série de conforto – “F.R.I.E.N.D.S.”. Aproveitas o facto de estarem umas fatias de pizza na mesa e comes, sem nunca me largares. Tão bom a sensação de sentir que pertenço a alguém e a um lugar. No final de contas, pertencíamos um ao outro e pertencíamos ali. Ao nosso ninho. Ao nosso conforto baseado em amor.
Reparas que tenho a tua sweater velha da faculdade vestida e sorris para mim. Perguntas-me o porquê de a usar mais vezes que tu próprio – sendo o verdadeiro dono dela – e, apenas te sorrio num tom de resposta. Percebes que a visto, porque tem o teu cheiro e isso é reconfortante para mim. Incrível como me percebes sem que eu te diga algo. Sabes o que isso significa? Que de entre um pequeno grupo de pessoas que realmente me conhece, tu estás nessa lista. E ainda bem… Sou tão grato por te ter na minha vida.
O episódio acabou e olhas para mim e perguntas-me como correu o meu dia. Eu conto-te tudo, até ao mais ínfimo pormenor do meu quotidiano e sei que, atentamente, vais escutar todas as palavras. A minha resposta termina com um “e o teu?” e eis que me contas também tudo.
A conversa estava boa, mas tive que me levantar para ir ao nosso jardim e fumar um cigarro. Pouco tempo depois, apareces tu e acompanhado de dois copos de vinho branco e no fundo, ouve-se uma coletânea de músicas do Sam Smith. Como eu adoro quando me fazes destes pequenos mimos. Falamos de tudo e de nada. Rimos desenfreadamente a recordar as peripécias das nossas vidas e reparamos que o relógio marca as 2h da manhã. Vês o quão admirado estou por o tempo passar tão rápido e dizes-me ao ouvido: “Só desejava que o tempo parasse aqui e agora, deixando-nos neste momento. Para sorte a tua… aliás, nossa! Eu sei como eternizá-lo”. Confesso que fiquei intrigado com o que me disseste, apenas olho para ti e mais uma vez, sorris. Mas, desta vez suscitou-me uma sensação diferente. Sorriste com uma serenidade que nunca a tinha experienciado contigo e vejo-te retirar do bolso das tuas calças uma pequena caixa.
Sem a abrires, olho para ti e rasga-se o teu sorriso lindo de orelha a orelha. Fiquei estático por uns segundos e sem mais demoras, ajoelhas-te e inicias um discurso que imagino que andaste a preparar há algum tempo e terminas com uma pergunta. Aliás, não apenas uma pergunta, mas a pergunta! “Queres casar comigo?”. Se quero? Quero! Claro que quero! Não quereria eu outra coisa, neste preciso momento. Então, é aí que colocas o anel que me compraste na minha mão.
Tens a capacidade de me deixar sem palavras. E isso é tão gratificante para mim. Aquele foi um momento que conseguiste eternizar no meu pensamento e decerto, no teu também. Um de muitos que conseguiste eternizar e que resultaram neste tão especial.
Brindamos ao nosso amor e eu não parava de sorrir. Ainda incrédulo com o que acabara de acontecer, dizes-me para preparar a mala. Pergunto-te porquê e aí respondes-me que em algumas horas iríamos estar num avião com um destino surpresa que só iria descobrir assim que chegássemos ao aeroporto.
Tenho que confessar, novamente, que não consegui dormir. A noite toda… Pensando em ti, em
nós e num futuro que se reservava em conjunto.
Passado algumas horas, vi-nos a chegar ao aeroporto. Eu estava desconfiado. Estaria aquele
momento realmente a acontecer? Mas aí, olhei para ti e vi-te numa serenidade que logo me
tranquilizou.
Não sei o que se passou, quando dei por mim já estava eu num avião… Creio que acordei com
a voz da hospedeira de bordo a informar que iríamos aterrar dentro de breves momentos. Olhei
para os lugares junto ao meu e não estavas lá. Claro… Estava a sonhar. A última vez que falei
contigo tinha sido ontem. Para te devolver a tua sweater velha que ainda cheirava a ti. Mas, não
a aceitaste de volta. Por isso é que sonhara contigo. Por isso é que quando dei por mim estava
num avião, sozinho e finalmente, a chegar ao destino que tanto ansiava ir contigo – Londres.
Tenho que limpar as lágrimas da minha cara, já estou a ver o Big Ben e não quero aterrar assim.
Triste e sozinho, ao invés disso: aperceber-me-ei que estou a viajar com a pessoa mais
importante da minha vida – Eu mesmo. A pessoa que irá estar comigo sempre e tentará amar-me
como ninguém. Vou-me encontrar nas ruas londrinas; no topo do London Eye; com os
esquilos do Saint James Park ou então, nas lojas de Oxford Street.
Talvez, não vá fazer isto tudo que escrevi acima. Ou talvez, vá. Não sei. Só sei que não estás
aqui. Comigo. Contudo, estou eu aqui a acompanhar-me e irá ser sempre assim.
Liguei o telemóvel assim que sai do avião e tinha uma chamada tua. Não te vou ligar… Dá-me
uns dias e deixa-me aproveitar a cidade. Deixa-me viver o meu sonho londrino. Deixa-me ser eu
e deixar-me estar. Se respeitares isso, vou-te ligar.
Rush
Londres, dezembro de 2018.
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